segunda-feira, 7 de junho de 2010

O que não há entre nós

    Não posso dizer nada , ao nosso respeito . Não há frases esboçadas , sorrisos  pintados, o quadro nunca está completo , não nós conhecemos e não existirá obras ao nosso respeito  . Não há nada nosso, nem os olhares , nem a busca por prazer imediato e egoísta .Simplesmente, porque não há nós. Não somos nós , quando estamos juntos, já que nunca estamos juntos , mesmo quando o que fazemos é trocar caricias  O que falas , são pinceladas suaves e superficiais , servem apenas , para reforçar , o nosso acordo pré combinado.O acordo que diz , que depois de saciados, iremos embora em uma estrada , com uma dupla bifurcação . A tua e a minha . Nunca a nossa . Nunca mãos dadas. Nunca um beijo de adeus. Jamais a necessidade de demonstrar carinho . As vezes , meu íntimo pede para que eu grite . Que eu  não quero mais esse acordo . E que eu quero mais.


  Eu quero mais do que carne e sangue . Mais do que essa rotina em que me vejo. Todos os dias , sentada na penumbra da decadência bêbada , dos botecos da vida . O salto fino , as roupas apertadas , desajustadas , feitas para a sedução do momento . As roupas que em segundos , estão atiradas no chão , rasgadas , dilaceras , do mesmo jeito , que acontece com minha alma , quando tudo o que consegues oferecer-me , é corpo , urgência , prazer. Não, nem isso me ofereces, quando estás comigo, é para que teu corpo, sacie-se, tua urgência se aplaque, é somente pelo teu prazer, que serve aquele instante onde não há uma entrega.


  Meu prazer , virou algoz , quando eu descobri , te seguindo , te observando, que teu sorriso é generoso , tuas palavras são tão doces,  sempre com ela..Virei prisioneira de sonhos, inquietações, e angustias românticas, quando me contaram que tu a amas.Eu não sabia que amavas,  nunca me contaste esse segredo, e eu por medo de me expor, aceitando de ti, o que penso é só o que podes oferecer, virei essa caçadora.


 - É isso que pareço aos teus olhos? Uma caçadora de prazer?


   Me olho no espelho, enquanto calço o sapatos vermelho, cor de sangue. Cor do teu sangue. Sangue que é derramado, quando cravo as unhas em ti, não como pensas, para exigir mais prazer. Cravo as unhas, em tua carne porque tento de qualquer forma, infiltrar-me em teu intimo. Tento chegar talvez, ao fundo da tua alma. Entrar no teu corpo. Dominar um coração, que é dela não e nunca meu . Tudo o que consigo é um incentivo para que continues. E gemidos. Os meus . Os teus. Nunca os nossos.


  No fundo, eu te amo , mas tudo o que posso ter de ti, é uma hora ou duas por semana. Quando foges e sem dizer nada, me tomas para saciar, o teu desejo.  No fundo  desse amor , eu te odeio , porque nunca vais me dar nada mais além, do que é  maldição. Além que é  corpo e físico . Nunca haverá rendição. Me olho no espelho , e vejo uma jovem que poderia sonhar com o amor . Bela , bem vestida , e inteligente. Mas por dentro , muito depois adas hastes de ferro e desse vidro  que reflete a mentira , existem os destroços . Manchas de batom , cabelos desarrumados , uma desordem sentimental , alimentada pelo egoísmo que move. O egoísmo doentio, que me diz que se nada mais , eu posso tirar de ti. Então que eu te tire o folêgo. E que tu me leves ao gozo.


  O batom vermelho. Da cor dos sapatos. Da cor do teu sangue. Da cor de um coração que pulsa violentamente de amor. E que sente repulsa. O batom vermelho, é a última etapa. Estou pronta, para nós . Um nós , que jamais existirá.

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