segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Procura-se desesperadamente músicas sem lembrança

Sentada em um banco, de qualquer praça, pensando mais do que deveria em você. Fumando,e  o que difere de um clichê, é que este  não é um cigarro barato, nunca será. Café sem açucar eu não gosto, e agora eu daria tudo por mais uma dose de tequila. Cerveja, vinho, e cigarros sem menta, me lembram você, é ... eu não disse que estava pensando mais do que deveria?
Mas eu não tenho tudo, nem um pouco me pertence. Alguns trocados no fundo da minha bolsa, uma foto, e algumas músicas. Músicas oriundas de um tempo anterior a ti, tempo feliz, ou ao menos, menos infeliz. Músicas que agora, estão impregnadas com a lembrança dos teus olhos, teu sorriso...
Procura-se desesperadamente músicas sem lembrança, sem cheiro, sem arrepio, por que, tu preenchestes todas as lacunas, entrastes nas minhas canções. Agora de Chico a Cazuza, de Piaf a Vercillo e até em Milles Davis, sinto a tua presença.Pensando demais em você, ouvindo demais minha dor, chorando em um canto, eis que alguém dá-me nova canção, alento aos meus ouvidos, e ao absorver nova canção, eu leio, entendo, e acabo pensando demais em você:


Como a lógica dos fatos
Que eu traí a todo instante
Rasurando nosso branco
Com a mistura que eu sou
(Rasura- Oswaldo Montenegro)
    



Acabo por  desistir, de procurar desesperadamente músicas sem lembranças, nao desisto da música, esta sempre será bem vinda, como o mais novo amor, mas enquanto este não chega eu sou o resultado:  da mistura que eu sou, da mistura do que tu és, mistura que fomos, e o que eu ouvir, sempre será motivo para recordar-te. Não é culpa das músicas, mas da dor de estares ainda aqui. Não despeço-me da dor, coisa incomoda e insensata, eu daria tudo para que ela se ausentasse uns intantes, e eu poder ouvir as nossas músicas com ameno pesar.
Mas eu não tenho tudo, nem um pouco me pertence. Algumas lembranças rasuradas, uma dor suportável, e algumas músicas. Mas nada disso é meu verdadeiramente, é a mistura do que eu fui, com o que eu sou. Da minhas novas e velhas músicas, e em algum lugar onde, mesmo com algumas páginas rasgadas e o branco da nossa velha amizade manchado, valeu a pena, e como diria Oswaldo: "a rasura que foi feita foi perfeita na sua hora",  deixou marcas eternas nas minhas canções.



*agradecimentos á Shana Corrêa, que gentilmente compartilhou suas canções comigo.