Era uma lugar obsceno, sórdido ,
desmoralizado, pra não dizer, um quarto de quinta categoria na rua mais suja de
Paris, mas era ali, que ela encontrava o supras sumo do seu prazer, era ali que
entregava-se com todas as forças ao lado obscuro da sua vida, a parte vermelha
e cinza que maculava, o mundo tão perfeitamente colorido e bonito que viviam para
a sociedade. Vermelho da carne, dos prazeres insanos e proibidos, do sangue que
ela lhe arrancava com suas unhas. Cinza, das paredes imundas do lugar. Como
todo aquele ambiente fétido, era assim que se a bela sentia: indecorosa,
horrorosa, ao sair ao encontro dele, todas as tardes que a chamava . A sensação
de agir como uma prostituta barata, a repugnava, mas era tal repugnância, que a
excitava. Era assim faziam três anos, e ela não sabia como refrear seus impulsos,
como deixar de ser a serva fiel, como um viciado, tragava toda a imoralidade,
pra depois se torturar com as delicias da culpa.
Fazia frio e os belos cabelos ruivos foram arrumados de forma que
ficassem cobertos pelo capuz negro da sua capa de veludo, procurava sempre
vestir-se da maneira menos ostensiva possível, deixava os belos vestidos e
jóias para as festas requintada e seu marido, ali, tudo que precisava, era
tirar a roupa. Estava nublado, úmido, sombrio, quanto mais se afastava dos
cartões postais parisienses, mais se viam mulçumanos e negros, os quais, principalmente
os negros, gritavam vulgaridades, e ela se perguntava, se um dia teria coragem
de realiza-las justamente com um homem daquele tipo. O corpo trêmulo, poderia
ser do frio, mas não, denunciava apenas a excitação, a antecipação do momento
que estava por vir. Encontrou a pequena pensão com a facilidade, que só o
hábito de um ato muitas vezes repetido, proporciona. Alguns bêbados rondavam
duas mulheres pouco cobertas, que se ofereciam por alguns trocados, uma delas,
ela poderia jurar, era uma travesti. Não perdeu muito tempo olhando, os tipos
daquele lugar eram sempre os mesmos. Bateu de leve a porta verde descascada,
com um enferrujado 21 pendurado, a voz rouca dele fez-se ouvir e ele não pediu
que ela entrasse, exigiu . Ele nunca pedia, ele tomava, invadia, dominava . Ela
era sua escrava, ele o seu algoz. O contrário poderia também ser dito.
Em um covil, com seu algoz: cativa,
subjugada, reduzida ao gozo e ao prazer que só atingia quando estava em seus
braços, era tudo que precisava, tudo ao contrário, da mulher que sequer se
despia, na frente do marido. Apesar de ser dia o lugar era parcamente iluminado
e ela só pode ver o brilho de malicia em seus olhos cinzentos quando ele a
arrebatou. Os beijos eram voluptuosos, agressivos, dilacerantes. Enquanto a
língua dele invadia sua boca, ela se agarrava aos cabelos louro- acinzentado de
uma leve textura sedosa e gemia exigindo mais, querendo muito mais do que os
ardentes beijos, como um também escravo do seu sexo, ele a obedeceu. As roupas
se desfizeram aos seus pés, e os corpos estava livres, dentro de uma gaiola
suja, porém livres para executarem somente as ordens do desejo. Se pudessem
despiriam pele, derme , epiderme, não que eles quisessem entrar em contato com
a alma um do outro. Não! Era um pouco antes disso, era a carne-viva, o sangue.
Sangue que corria mais rápido na veias no momento em que ele a penetrava com
vigor animal .Sangue que corria no momento em que ela cravava-lhe as longas
unhas nas costas, para segurar um pouco a onda de sensações que já a invadiam .
Sangue corria ao serem chicoteados pelo prazer. Escravos de uma tórrida e
proibida paixão movida apenas por um intuído, a conquista do prazer .
Os corpos moviam-se na velocidade de sua urgência, a boca ávida dele procurava
com sofreguidão a dela, ora ele a beijava, ora acariciava seus seios com a
língua até não aguentar e deixar suas marcas de chupões e dentes por todo o
colo. Ele a virou então de costas, era assim que gostava de penetra-la, enquanto
gritava, e pedia que ele a chamasse dos nomes mais sujos que pudesse, e que
puxasse seus cabelos, até o pescoço inclinar e da posição em que estava, ela
olhar dentro dos olhos dele. Ela, gostava quando ele gozava assim, olho no
olho, e de como tombavam cada um para o lado oposto do outro .
Ela se foi então, após um rápido banho, sem dizer uma única palavra .
Entre eles era assim , falar era desnecessário afinal os atos muito diziam por
si . Diziam-se que eles apenas necessitavam um do outro fisicamente , e que
depois de satisfeitos estavam livres até que a vontade voltasse com violência
como quando acontece a um viciado em sua crise de abstinência, até que eles se
debatessem novamente com violência em suas camas frias compartilhadas com seus
parceiros que pareciam fazer sexo por obrigação, até dali dois dias, talvez
quatro, nunca mais do que isso. Eles eram o ópio um do outro, o único desvio de
vidas tão perfeitas, de famílias tão bonitas, e talvez fosse esse vicio que
sustentasse toda a coluna vertebral do resto, aquele momento de extravasar o
que verdadeiramente eram, escravos loucos do prazer. Sochie então podia vestir
sua fachada de mãe e esposa fiel e voltar para o conforto do lar, ele também ,
voltaria para Ariana depois de um cansativo dia de trabalho e sentaria a mesa
da sala de jantar, onde a ouviria falar sobre o dia de pequeno filho, ou
talvez, convidasse o irmo e a cunhada, para jantar, assim, poderia come-la com
os olhos, e planejar o próximo encontro.